sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Anna, louca




Anna, louca
Tenho uma faca debaixo do braço.
Quando em bicos de pés debito mensagens.
Serei algum tipo de infecção?
Fiz-te enlouquecer?
Tornei acres os sons?
Disse-te que trepasses à janela?
Perdoa. Perdoa.
Diz que o não fiz.
Diz que não.
Diz.

Reza  Avé-Marias na nossa almofada.
Leva-me o desengonçado dos doze anos
Para o teu colo submerso.
Sussurra-me como a um botão-de-ouro.
Come-me. Come-me como a um pudim-creme.
Toma-me em ti.
Toma-me.
Toma.

Dá-me um relatório sobre a condição da minha alma.
Dá-me um depoimento completo das minhas acções.
Dá-me uma concha de arácea e deixa que a ouça.
Põe-me nos estribos e traz uma excursão.
Enumera meus pecados na lista da mercearia e deixa que os compre.
Ter-te-ei enlouquecido?
Ter-te-ei ligado o auricular e posto uma sirene a tocar?
Terei aberto a porta ao psiquiatra de bigode
Que te arrastou consigo como a uma cesta dourada?
Ter-te-ei enlouquecido?
Desde a sepultura escreve-me, Anna!
Não és mais que cinzas mas ainda assim
Pega na Parker que te dei.
Escreve-me.
Escreve.






Anne Sexton
Tradução: Maria Fernandes

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