quarta-feira, 3 de agosto de 2016

To a Place

poema criado para o projecto PLACE - TRATUÁRIO que resultou em "FROM A PLACE - tudo à volta uno e ninguém saiba onde está", de Sara Rodrigues


do lugar aquoso
da rocha viva
onde se lavra
a raiva
da raiz humana
jamais nascida:

- sei que não sei hoje mais
que o leve sopro ido e volvido
de cada marulhar de onda.

há no ser do lugar
a canga de se
saber achado

houvera alguma fé
e a fé
ter-se-ia acabado.

ainda que:

(within this ward
no soul
is bright enough
as in order to
sustain
facts and figures
moutains are high
though quarries
grow empty
and sins die hard
and still
we all wave up
to a place
that was never
gone)

- tudo à volta uno -
e ninguém saiba onde está.



Maria Fernandes
(21.02.2016)


http://www.place-projects.com/place--tratuario.html




sem título

se em palavras
se condensasse
um
e só um
– passo em frente

todas
e repito,
- todas -
as vozes soariam
como as sabemos:

mudas


para JAB


Maria Fernandes
(04.03.2016)

 

professora substituta

a professora substituta
- na 3ª classe -
muita vez adormecia
nós, petizes, sussurrávamos
algazarra – sempre
com os deveres já feitos

contou-nos numa manhã
- uma de gelo, como no Norte acontece -
uma outra manhã também
em gelo, nas Queimadas.
estava muito frio, disse,
o cacau a ferver não nos
queimava as mãos
e trazíamos por dentro o calor
emprestado, roubado
à serrania gélida

a professora substituta
- na 3ª classe -
muita vez adormecia
os petizes, ao fundo da sala,
depois das carteiras com
buracos para tinteiro
destoados já daquele tempo,
rodavam o mundo-amostra

as nações – todas – que no futuro os veriam

sopsôra Manuela, diga-nos
quando acordar do seu cansaço:
- quem fez tão dura e estéril de afectos
esta Ponta – no mar do Norte plantada?



Maria Fernandes
(25.03.2016)