quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

CONSTATAÇÃO IV


Antes de te tornares fantasma fugi de ti, esbaforida, inconsequente e pseudo-lúcida.
Agora que és bruma metafísica, teima em buscar-te a mente doentia, pesada, inconsciente e incapaz de perdoar.
Carrego a herança bruta de ti em cada carregar de sobrolho, a estupidez, a insanidade, o orgulho idiota!!
E desejo em soluços de raiva não ser de ti, nem nunca ter sido de ti, nem nunca ter tido de ti. Em última instância, que houvessem enterrado com a tua podre e asquerosa carcaça o que foi de mim em ti, o que possa ter tido de ti. Então poderia ser ninguém.

Maria Fernandes



CONSTATAÇÃO III



Já não sou genial.
Terá, certamente, existido o tempo
Do brilharete académico, da
Dialéctica admirável, prosa sem igual,
Do mais perspicaz e fluido dos raciocínios.
Versejos de bolso de trás, amarrotados,
E que atirava aos ouvidos ansiosos,
E não pouco histérico-bruxuleantes,
Das amantes coleccionadas em esquinas
De eventos anti-sociais.
E eu era genial, genial!
E todos me olhavam
Invejavam-me o porte confiante, a máscara
Colorida da ocasião, o novo assunto a discutir.

E um dia sou esterco. Já não sou genial.
Esterco. Ou merda, mesmo.


Maria Fernandes

domingo, 27 de janeiro de 2013

Da Palavra Assassina



Como se escreve o que se não pensa, o que se nos estravasa a lucidez?
Como compor em palavras cognoscências cósmicas?
Se não sei escrever mais do que o que penso
E me encontro, não raras vezes, em coma sináptico
Buscando algo, algo só.
Talvez me tenha acabado a vida que possa esboçar.
Talvez não conheça mais conceitos e observam-me
Os olhos dos que me não vêem , nem me sentem, nem me cheiram.
E o meu nome não ecoa em sítio nenhum, nem faz esboçar sorrisos.
Pensar a infinitude já me não satisfaz, já me não preenche.
Quero agora a nanoexistência invisível de se misturar em moléculas
Do querer, em ardor, ser toda palavra, toda linguagem, toda ideia.
O nylon que entre o dedos me vibra rasgando acordes que
Não sei articular e quero-os abarcar em mim e quero-lhes
Mudar o nome e a face para uma outra forma de arte, a dos
Inquietos e insanos que se auto-instruem do conhecimento
Que se sabe, enfim, enganou o mundo e os homens do mundo.
Saber ser, saber o saber, ser o saber. Escrevê-lo na convicção
De que nada mais é digno de ser pensado, reproduzido, lembrado.
E é quando se olha por cima do ombro e já nem sombra se tem.
E é quando algum vago auto-reflexo nos fita impunes e nos cala
De súbito a vã oração da lei cósmica, que loucos vamos balbuciando
Em cada virar de esquina, e sabemos que do pensar nasce a palavra.
E que esta em nós renasce.
 E que esta em nós mata.


Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2015)

domingo, 13 de janeiro de 2013

Deadly Glorious


When there's serenity from within
Each breath become two.
Oh, wave me goodbye!
Allow this departure!
Can't stand no longer the wilderness
gazing of your exquisite soul in nobody's body.
Feels like old bruises regaining life colours
Thoughts and feelings dancing
On those electric fire wings,
My invisible hands touching you
Quietly surrendering in secret nights.
Frosty and starry nights in white silk
Formerly made of dark satin
Where I hover above myself
And gently struggle within
The wilderness of your
cotton-blue-violet aura.
Everything is universe and all's made of universes.
Lives within them deliver their elliptic route
Through many, many eras, intersecting and
Colliding together in the eternal cycle of cycles.
A sudden remembrance of falling brave waves
Back there in our dark beach where all stars were hidden.
Few words were pronounced, all sins confessed.
And still, wave me, yes! Wave me!
Allow for smiling tears to bath us in our defeated
Colliding wombs, melting in desires and poisoned fevers.
I wake up in white frosty mornings and feel
Invisible fingers of you touching me, seeing me. They know what I do.
They feel what I feel, we breathe at similar rhythms, pray the same words.
Come and lay down beside me, come and lay down and wave me.
Wave me in that last glimpse as I fall through the cliff of Us.
- in a Deadly Glorious way

Maria Fernandes