quarta-feira, 10 de junho de 2015

Quem em mim, o Poeta?

Quem em mim, o Poeta?

Quem o que opera
em fustigado êxtase
a transubstanciação do Ser
que se torna uno e únicamente
Palavra?

Quem em mim o Poeta?

Quem o que urde sons em
prazeres de cruz
ao ver passar a populaça
por entre losangos,
a tecitura nocturna dos
raios de luz que não vêm mais?

Quem em mim, o Poeta?

Que o não enxergo
por entre os véus nossos
de todos os dias
tantas e tantas vezes.
Que todas as vezes
que possa contar
são idas e vindas ao
desprazer da ira
que nos envolve em
chãos de mármore…
e murmuro a verdade do Teu nome.

Que tal ser se me some
entre os dedos de todas
as manhãs esperançosas
em que venho à tona da Palavra
da noite ida da nossa imensidão.

Quem é, em mim, o maldito Poeta?

O que atira em desvario
sílabas ao desafio,
o que se acossa e olha depois
para o lado em assobio,
que é dele feito?

Espraia-se ora por entre dunas
de mansidão ociosa.

Alonga-se esta noite
por tacos e madeira
omnisciente – ei-lo como paira.
Na reticente teia desta sarapintada abóbada
é o pilar de bânger do meu porto do mundo.

Em que me atiro bravia e me vejo à tona
da lama púrpura dos dias pardacentos
em que me esvais, ò meu Poeta inconsciente!

Vai-te hoje que cá já sobras
vai-te esta noite que nada,
nada mais já dobras.


Maria Fernandes
(11.05.2015)