sexta-feira, 25 de outubro de 2013

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Há sempre um Nó na curva
do pensamento da nossa Impossibilidade.
Emaranha-se diante dos olhos parados.
Forma-se de curvas e rotundas ante mim – hirta.

A Máscara que de novo me veste murmura trovas e blasfémias em tom de troça
- A Máscara antes Inerte, ri-se agora e debocha:
 
Que a atirei em desvario,
Que a desdenhei, febril,
Que lhe senti o gosto acre da ausência.
Que a desejei de volta, já perdida.
Ei-la ora novo milénio volvido.
Ei-la agora colada ao meu Rosto.
Ei-la fresca, descansada, em forma de mim.

No Nó crescente da curva do pensamento
da nossa Impossibilidade - sou esta, a antiga.
Desnuda, arrasada e arrastada que fui
Por escarpas do nosso vão contentamento
Eis-me ora – hirta e fria.

Maria Fernandes

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Da Ausência

Ainda que estejas, como estás, como em verdade nunca estiveste
Ainda que tenha aqui visto realmente, cheirado, sentido realmente.

Ainda que estejas, como estás, como em verdade nunca estiveste
Sou agora o ferro com que me quis vestir. Oxido na orla do teu oceano.
Embarco em canoas de tolho que nunca chegam ao teu cais - onde cais,
Onde sem te chegar, te recolho e te afago - recolhendo-me, salvando-me.

Ainda que estejas, como estás, como em verdade nunca estiveste
Sou agora rochedo maior que esse que habitas, ou pensas habitar.
Sou agora, mais que heroína estóica e feroz arremessada a ti
- Sou agora a tela sem côr onde pintas o meu Ser, silêncio parado.

Sou agora a estrela estática do firmamento dançante
A tempestade que infante algum ousa enfrentar.
Sou o eco de tudo o jamais escrito - palavras, ritos, sinfonias, asas.
Sou a aterragem que nunca houve porque voo algum foi Real.

Ainda que te tenha aqui visto realmente, cheirado, sentido realmente.
Ainda que estejas, como estás, como em verdade nunca estiveste.

Queda-te e deixa - não venhas, já.



Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)













domingo, 13 de outubro de 2013

Nocturne Fog

felt the momentum
as a boiling whisper
came to me

daring

a nocturne fog.







Maria Fernandes

sábado, 12 de outubro de 2013

Todo o Nada



Sem pés nem braços
Te alcanço e te abraço.
Sem boca, sem saliva
Sem cheiro – te sinto,
Te mastigo, te inalo
Por toda a parte
De mim te exalo
Quando ainda tua me dou
De cada vez que te embalo.

Sem pés nem braços
Sem mãos nem coxas
Te resgato e te guardo,
Te aqueço e te deixo
Te louvo e maldigo.
Sem olhos que te sigam
Sem lábios que te mordam
Sem tudo, com nada de mim
- ou da Máscara, a que Inerte
Nos seduziu, desenvolta na noite
E nos fez novos. E nos fez de barro branco.
O molde de nós não cabe no
Tamanho do Tempo, nem de espaço algum.

- Pelas costuras da noite nos fizemos.


Maria Fernande, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)