sexta-feira, 30 de março de 2012

Coisa Rápida

Queria agora, rapidamente, dizer de minha justiça
Mesmo que doesse a ouvidos incautos o que de
Podre e bravio por estes poros escorre.
E se tal não fôr por mil deferido,
Pois que indeferidos se quedem
Que de teatrais faces só temos falta no municipal!

Se, rapidamente, meia dúzia não passar a cinquenta,
Que serve o grito? Nova meia dúzia?

Foi coisa rápida que se me ocorreu, não levai a mal.
À medida que mais gaivotas, patos e pombos
Me sobrevoam e que, de rompante, fujo para as oceânicas vistas
Assola-me o assombro de milhas e milhas de vagas.
E em mim, me deixo cair, e cai uma nova noite, e o rio sobe.

Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2015)

terça-feira, 20 de março de 2012

Pigeons & Seagulls

Pigeons and seagulls I see down this harbour
And they look all the same in all places, anyway.
There´s an old song running through this skin and
For that little wonder proceded from me
I send these tears and this joy.
I send visions of valleys and rivers
Where pigeons and seagulls fight for a toy.

Flying circles drawing in brown waters
Bridges from hills of salvation and
White houses in sands of pain.
Seagulls scream while pigeons, they wait.
No matter what the song is about
Their scream is always out loud.
You see, from this window I can still hear
Those ducks I haven't seen.
The ones who took away those illnesses and fevers
Where I was struggling to breathe.


Maria Fernandes

terça-feira, 13 de março de 2012

Contemplação VII

Depois da febril vigília desta noite, meus olhos
Custam a aceitar esta luz sem beira ou sequer eira alguma
Onde por algum instante terei ousado sonhar em repousar
Os verdes olhos, meus.
A noite é de branco horrendo
No compasso em que esse galo já canta, apressado.
Oh, para o teu refúgio escoarei
Todos os ecos - putrefactos e brilhantes -
Que destes corpo e alma exale!
Ao teu olhar clínico remeterei
As reminiscências do inusitado espírito
E os gritos do desusado corpo
Que ondulante pelas pedras desta paredes
Deambula buscando ar novo.
Por cada colina que neste horizonte contemple,
Uma palavra pensada para ti, para o teu
Exclamativo sorriso, para o teu olhar mais fundo que verdes águas
Onde não me foi permitido banhar
Mas somente refrescar a face.
O Torridge corre no sentido oposto
Ao que julguei. O seu recorte pela imitada paisagem de Turner,
Ora baixio ora altivo é o termómetro da minha saudade.
A corrente que não jorrou, ficou à nascente.
Quedou-se entre palavras, entre frases, entre reticências.
Adormeceu em escarlates corações, em punhos cerrados, em manhãs de Domingo
Em que de ti despertei e onde nada acontece!

Atirar-te-ei desse abismo de onde vim.
Deixar-te-ei só nesse limbo multicolor.
Dar-te-ei rubros frutos de agridoce e sumarento âmago.
Até que não mais escapes pela escarpa de meus dedos.
Até que pela porta da madrugada sejas engolido.
E da vigília dessa noite, não restem mais que
Garridas cores de lenços viajantes!!!!


Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2015)



sábado, 10 de março de 2012

Em todas as cãs

Em todas as cãs procurei o recorte dessa suíça.
A cada esquina que dobrei, o medo de ver-te saindo
Das entranhas dos alvos passeios no chão da minha cidade.

Em todas as cãs procurei a sobrancelha desse olhar
Que me desnudou no ínfimo instante anterior ao
Vómito dessa emocionada canção feita mantra.

Em todas as cãs esperei ouvir o meu nome
Mas um outro de quatro pancadas emudeceu
O sussurro que havia prometido ser teu.

Em todas as cãs o recorte do centenário til
Ao luar dessa noite velada do planalto ao vale,
Do despertar azul ao café, do cigarro ao sexo.

Em todas as cãs quis ver essas mãos que
Gentilmente afagaram esta face e desenharam
Abruptos sons no sideral espaço que nos ungiu.

Em todas as cãs incontáveis desejos guardados.
Encontros desta e das outras vidas nossas.
Indizíveis contos de embalar, adormecer em ti.

Em todas as cãs a bofetada de não seres tu do outro lado.
As milhas imensuráveis, assombrosas e lacerantes.
A morte anunciada, a aterragem - oh! e tudo acabado!!


Maria Fernandes

terça-feira, 6 de março de 2012

Operação


Da desesperada tentativa de sorver as moléculas últimas O2
Presentes na rarefeita atmosfera – Um Grito, último!
De diploma higiénico em diploma higiénico – da conceituada marca PEC!
Como de areias movediças se tratasse, afunda-se a populaça – na merda!
Se entranhas, vísceras e dejectos se assemelham
Vai que a essência é parecida, varia a Cor!
Corta-se a direito, tal como ao papel, quer-se lá saber se tem mais para o seguinte.

“Estão-se a cagar” – mas não estamos todos?

Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2015)

(revisto em 11-01.2014)