domingo, 28 de julho de 2013

Do Retalho



Sempre se traz os olhos em mar.
Lembro-me, juro-o por todos os Céus e diferentes deuses, que vi aquela sombra sobre nós, à espera. Mas tu não.
Emaranho-te agora nos cabelos que entranço e que atiro depois onde antes te descansei os lábios para agora repousar os meus. Derrubada do pódio da lógica, eis-me brutalmente demolida de Verdade.
Fiquei-me por uma ou duas eternidades a contemplar a tua queda, a tua dor, a tua morte.
Rejubilei. Depois vi que estava morta. Enfim, adormeci.

Maria Fernandes,
in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)

Aceitação




Que me vais fugir - como se jamais o houvesses feito.
Como se não te houvesses atirado ao mundo com a mesma força
Com a mesma ira, com a mesma paixao com que ávido e generoso
Quero estas raízes minhas mais bestialmente fortes que a Terra.
Que me foges - como se mais nada de mim houvesse antes fugido.
Que me vais fugir - e nisto detenho a fala.

Nao tarda que me vá.
E a abrace.

Norberto Damásio,

CONSTATAÇÃO V





Como se amar-te não fosse estar aqui ou estar aí - como se bastasse
 ser esta e tu esse para, loucos e sem esperança, trilharmos ainda,
cegos e mundanos, os ínfimos corredores da insuportável consciência
de perfeição molecular extrasensorial arrasadora
(que é o que se dá a cada rural sentir da tua mão invisível
 e quente e o rápido instante em que recolho as pálpebras.)
Como se bastasse ser quem se é, não esta ou outra ou outro
ou parecido ou o raio que o parta em vinte e cinco mil de mim para ti, se assim for.
Onde se estiver, se está. Onde se sentir, se está.
- Como se ainda não chegasse.

Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)

Numa Tarde de Sol (em que me deixei espreitar)



17.07.13

Jorro agora em papel os sentidos quando se
Esvaem dogmas  em olas de pedantes.
Os versos, incipientes, sei-os mais que idos
Ribeiro abaixo rolam, absurdos e moucos

E em toda a medida do espaço
Senta-se a lógica, toda ela vida.
A Vara não me repara, nem me repasta.
Mastiga-me a incongruência, por onde passo
E me abandona assim – meia morta e despida.

Maria Fernandes,
in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)

(revisto em 11.01.2014)


sábado, 13 de julho de 2013

Do Dia que Corre



Desperto quente,
Na tecitura das últimas manhãs infernais e
Urge que me dispa de silêncio.
Conta-me, hoje, do abraço meu
Que não sentiste durante esta noite.
Fala-me dos meus dedos que te não
Deslizaram a pele, nem o corpo
Nem os pelos do peito.
Conta-me do Mar que te lambeu em
Salmoura-Norte – como o vem fazendo
Eternamente à tua Mãe-escarpa.
Conta-me das lágrimas que
Te fez esquecer uma vez mais.
- Afinal é um novo dia.

Conta-me agora, que estou esbaforida,
Agora, que vai já o dia mingando
E a qualquer hora hás-de chegar
Às paredes azuis mudas – olhar-te-ão
E talvez me penses. E não estou.
Como nunca estou.

Maria Fernandes,
in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)

Declaração




Declaração

Eu, Norberto – um homem novo vindo dos infernos, navego agora à ilharga do vale de onde me fiz e  onde me esculpo para sempre.
Eu, que guerreio e atiro os braços ao ar em força e em ânimo, vomito o âmago em asco quando me ferem e traem os  Olhos circundantes da perniciosa Vara que finge pasto para só mais pasto contrair...e engolir. E esmiuçar. Tragar a terra e o povo como se terra e povo não fossem intragáveis e indemolíveis!
Eu, Norberto Damásio, 39 anos, de vale esculpidos – não vendi nunca a coluna a demónios da Terra!

Norberto Damásio