terça-feira, 10 de julho de 2012

Premonição


Ouço.
Como se o cheiro desta enormíssima noite
Me trouxesse de volta o vazio dos anos
Em que em cada entardecer tentei
Em vão recompor-me do pesadelo da noite anterior..

Contemplo
A esvoaçante e lilás melodia do batuque
Da mente ao descortinar ideias e conceitos
Que não ouso pronunciar - profanos!!
E que me apartam e me acercam...

Sinto
O suave murmurar da respiração tua
Em minha pele arrepiada, ciosa de ti - de tudo de Ti!
Mil a milímetro, decibéis perecíveis, as cores..
Julgadas mortais, eis que emergem do vão desse bêco!

O teu cheiro
Rapta a monte e brada aos mundos
Ariscas e férreas vontades de jamais emergir das paredes azuis
As que, escravas, não tiveram remédio que
Ser testemunho de quinhentos e vinte e cinco mil milhões de outras vidas passadas..

E a meu palato
Vem o doce e tão acre sabor a Ti -
O mesmo que em aromas me cobriu por
Mais não sei quantas horas até que em solo sacro
Ou não sacro me ajeitei a este alarde de sentidos, que em verdade os sinto mais vãos que idos!


Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2015)

1 comentário:

  1. Excelente poema.
    Parabéns pelo talento que as tuas belas palavras revelam.
    Querida amiga, tem um bom resto de domingo e uma boa semana.
    Beijo.

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