Afasta essa madeixa, acaricia-me a face - beija-me a fronte.
Deixa que a suave brisa em mim
Deposite a verdade da minha ausência.
Se a figura ébano no banco de
Jardim às três da matina não me
Segredou as palavras contidas no
Livro sacro-secreto, receita do
Arroto que ressoou nas desertas
Ruas da minha cidade.
Se o latão alado que aqui me trouxe e
Não cuidou que cá me sonhasse embutir.
Se a cinza estática que noutra
Banda me aguarda não guarda
De mim a mais pálida memória.
Na cinza, de sombra não passo.
Na cinza de águas me não ato.
Deleito-me e deito-me nos vãos da
Minha escadaria, a que percorro
Com a ideia de lá em cima
Encontrar o meu Rosto, se é que
O levo comigo.
Afasta essa madeixa de cabelo -
Acaricia-me a fronte.
Permitirei que te banhes na
Tempestade contida dos meus olhos.
Permitirei que me arrebates
Em disfarçada e secreta paixão.
E dar-me-ei sem condição
Até que me vá. Até que em ti me vá.
Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2015)
(revisto em 11.01.2014)
O incondicional da entrega. Que no amor é importante.
ResponderEliminarGostei imenso, magnífico poema.
Maria, tem um bom fim de semana.
Beijo.
Olá, Nilson. O tónico do gin regou as palavras incondicionais no esdrúxulo cair da noite vã da minha perplexidade. Obrigada. :)
ResponderEliminarNão me digas que tomaste doping para fazer este excelente poema...
ResponderEliminarBeijo, querida amiga.
Doping, não - complemento de sobriedade... ;) Bom fim de semana
ResponderEliminar