quinta-feira, 26 de julho de 2012

Contemplação IX

1
A cada noite em que me atiro
Na horizontalidade das palavras e sou depois
 Arrancada ao sonho pelas garras das madrugada
Que na erma dificuldade das lágrimas
Me deixam hirta e suspensa, morta e inanimada
Suplico pelo entendimento do meu canto inócuo.

2
Se essa sentença absurda me embatuca,
Me cala à tua beira, como respirar?
Como caminhar, como respirar?
O eco não me traz resposta alguma
E já nem certeza tenho de a querer ouvir
Com medo de ensurdecer e ensandecer.
Desconheço realmente este Reflexo no espelho
- em palavras se transforma.

3
Quis prostar-me de braços abertos,
Receber a frescura dos céus - um burbulhar
De partículas vibrantes a recriar os tremores
que me causam a tua proximidade...
Inebriar-me na aquática melodia do meu quintal,
Querer saber porque perseguida fui através das marés
Dos Perplexos Oceanos que nos apartaram sem dó.

4
O rasto luminoso e invisível a comuns mortais
Que deixas neste corpo a cada milímetro
De toque amorna-me a alma e permite
À mente o ideal repetido por ínfimas eternidades...
Depois da partida resta-me o desejo de  
Confessar às paredes ainda brancas
O grito austero que me afoga o peito.
O grito que me subjugou ao teu cheiro,
Que me deixou colada à tua pele.
Já não sou mais eu.. confundo-me contigo.
Esqueci o meu nome ou estranhamente soa-me ao teu...



Maria Fernandesin Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2015)

1 comentário:

  1. Será que a tua poesia te liberta das dolorosas insanidades que a tua riqueza interior contém ou queimas-te cada vez mais?
    Ah! Sem a escrita, que seria da loucura?

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