quinta-feira, 17 de abril de 2014

Dos locais e das cidades de casa e de lá - Oxford



Bodleian Library e St. Mary's Church

Diz que é da inspiração do berço anglo-cultural
Que se nada se tem a declarar, que capricho serve
A ânsia de transbordar em vómito silábico-sinfonia
O que se disse, se algo enfim se disse – murmúrios
Das cidades de casa e de lá – o caos de casa, onde estou,
Com a calmaria do cá, onde vivo sem estar.

(lugares novos sempre inspiram, diz-se.
olha, este não inspira lá grande coisa)

Das ondas e dos verdes em mil tons
Das rochas, dos paus em todos os marrons.
Dos teus olhos feitos água me olhavas
Aterrada e vencida, pelo canto do olho.
E eu, já sem palavras e sem voz
Ciente que estava de ti, na vez última.

Em tua forma alva enxaguo a vista.
O ouro, dádiva dos céus dos dias últimos
Empresta vida nova à forma secular da cidade.
Em cada raio dourado, o Imo latejante no ir - respira já o novo sopro do Rochedo Nosso.

(quando era novo este lugar, o verde das suaves colinas
e as palavras em catadupa antes da descoberta)

O Rochedo do caos da minha paz interior
Onde já espraio o ser, o olhar, a palavra por nascer
Sibila-me o nome ao vento atlântico.
Sibila-me o nome à corrente marítima.
Ecoa calcário na Grã Ilha de cá, onde vivo – sem estar.
Galga prados e bosques, rios e lagos. E cidades.
Murmura-me enfim ao ouvido o cometa
Expectante do meu contentamento.
Lambe em júbilo a forma de século das rochas
De que se faz esta cidade, nelas se enrosca, se aninha.
Aguarda que por elas passe, e quando passo – em urgência de fé –
Afaga-me o rosto e a Máscara, gentil, sorri por dentro.
Então, banho os olhos com a forma, degusto-a, prendo-a, visceral.

Em poucos dias, reduzida a forma à imagem
E digerir então o que foi neste Imo a metamorfose
Resultante do que operou a forma alva, onde enxaguei a vista.
Na brancura da calçada da minha cidade, verterei rédeas
De palavras-purpurina – à luz, imponente, que tudo pode do Rochedo
Verei rendida a soma do roteiro na Grã Ilha.
A saberei rica, sóbria, compacta. Salgada de brisa, ora.

E o novo afago e o sorriso por dentro da Máscara.
A leveza de saber que depois de engolida a forma
O libertador acto seguinte do jorrar silábico da Palavra Nova, ora.


Maria Fernandes

2 comentários:

  1. Os lugares novos inspiram mesmo.
    A prova está neste poema, nem é preciso ir mais longe...
    Magnífico, gostei imenso.
    Maria, querida amiga, espero que a tua Páscoa tenha sido muito boa.
    Uma óptima semana.
    Beijo.

    ResponderEliminar
  2. Agradeço a atenção, Nilson.
    Que a Páscoa tenha sido doce. Beijinhos :)

    ResponderEliminar