quinta-feira, 3 de abril de 2014
Tu, mulher, a uma esquina fumavas
Mulher, arfaste à vista do meu prazer.
Nas manhãs azuis de mantras fumavas
a uma esquina e viste-me despertar:
tinha os lábios secos e púrpura
quando te quis dizer o nome.
Depositaste então em mim a tua seiva
e pude ver-te o rosto sem o estranhar.
Soube-te nas entranhas do fumo
Que soltavas sob o ar da manhã azul, em que
Tu, mulher, a uma esquina fumavas.
Mulher, da falsa ideia da tua propriedade
Murmuraste a volúpia do prazer final,
em arcos que nunca soube nomear mas
pude somente ver tomar forma
Sob o peso desnudo do verso
que, meneando-nos em cordas bambas,
nos algemou no Limbo extra-universal
da impossibilidade etérea. E o júbilo -
- real e vero - indesmentível a cada manhã em que
Tu, mulher, a uma esquina fumavas.
Norberto Damásio
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