Refrão I
Não desejamos que nada aconteça.
Em sete anos vivemos calmamente,
Conseguindo evitar sobressaltos,
Vivendo e em parte vivendo.
Tem havido opressão e fausto,
Tem havido pobreza e desordem,
Tem havido injustiças de menor.
Ainda assim fomos vivendo,
Vivendo e em parte vivendo.
Por vezes nos falhou o milho,
Por vezes a colheita é boa,
Um ano é de chuva,
Outro ano é de seca,
Num ano abundam maçãs,
Noutro faltam as ameixas.
Ainda assim fomos vivendo,
Vivendo e em parte vivendo.
Temos mantido as proezas, ouvido as
missas,
Temos fermentado cerveja e cidra,
Juntado lenha contra o Inverno,
Falado na esquina do fogo,
Falado na esquina das ruas,
Falado não só em suspiros,
Vivendo e em parte vivendo.
Vimos nascimentos, mortes e casamentos,
Tivemos escândalos vários,
Fomos afligidos com impostos,
Tivemos risos e mexericos,
Várias raparigas desapareceram
Incontavelmente, e algumas o não
conseguiram.
Todos tivemos nossos terrores privados,
Nossas sombras particulares, nossos medos
secretos.
Mas agora um medo maior paira sobre nós,
um medo não de um mas de muitos.
Um medo como nascimento e morte quando
vemos nascimento e morte por si só
Em local ermo. Nós
Temos medo num medo que não podemos
conhecer, que não podemos enfrentar, que
Ninguém entende,
E são-nos arrancados os corações, os
cérebros esfolados como camadas
De cebola, estamos perdidos, perdidos.
Num medo final que ninguém entende.
Refrão II
Não temos sido felizes, meu Senhor, não
temos sido muito felizes.
Não somos mulheres ignorantes, sabemos o
que devemos esperar e não esperar.
Conhecemos opressão e tortura,
Conhecemos extorsão e violência,
Destituição, doença,
O velho sem fogo no Inverno,
A criança sem leite no verão,
Nosso trabalho que nos foi retirado,
Nossos pecados feitos mais pesados sobre
nós.
Vimos o jovem mutilado,
A moça retalhada, trémula numa ola
corrente.
E entretanto fomos vivendo.
Vivendo e em parte vivendo,
Juntando os pedaços,
Apanhando lenha ao anoitecer,
Construindo um abrigo parco,
Para dormir e comer e beber e rir.
Deus sempre nos deu alguma
razão, alguma esperança; mas agora um novo terror nos assolou, um que niguém
pode impedir, ninguém pode evitar, fluindo debaixo de nossos pés e pelo céu;
Por debaixo de portas e
chaminés abaixo, fluindo pelo ouvidos e pela boca e pelos olhos dentro.
Deus está a abandonar-nos,
Deus está a abandonar-nos, mais angústia, mais sofrimento que nascimento ou
morte.
Doce e inebriante por entre
o ar negro
Paira o sufocante perfume
do desespero;
Formas tomam silhueta no ar
negro:
Um ronronar de leopardo,
passadas de urso hirsuto,
O símio anuente, hiena em
quadrilha à espera
De risos, risos, risos. Os
Senhores do Inferno estão aqui.
Rodopiam à tua volta, jazem
a teus pés, oscilam e voam no ar negro.
T.S. Eliot
tradução: Maria Fernandes
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