sábado, 12 de outubro de 2013

Todo o Nada



Sem pés nem braços
Te alcanço e te abraço.
Sem boca, sem saliva
Sem cheiro – te sinto,
Te mastigo, te inalo
Por toda a parte
De mim te exalo
Quando ainda tua me dou
De cada vez que te embalo.

Sem pés nem braços
Sem mãos nem coxas
Te resgato e te guardo,
Te aqueço e te deixo
Te louvo e maldigo.
Sem olhos que te sigam
Sem lábios que te mordam
Sem tudo, com nada de mim
- ou da Máscara, a que Inerte
Nos seduziu, desenvolta na noite
E nos fez novos. E nos fez de barro branco.
O molde de nós não cabe no
Tamanho do Tempo, nem de espaço algum.

- Pelas costuras da noite nos fizemos.


Maria Fernande, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)

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