quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Da Ausência

Ainda que estejas, como estás, como em verdade nunca estiveste
Ainda que tenha aqui visto realmente, cheirado, sentido realmente.

Ainda que estejas, como estás, como em verdade nunca estiveste
Sou agora o ferro com que me quis vestir. Oxido na orla do teu oceano.
Embarco em canoas de tolho que nunca chegam ao teu cais - onde cais,
Onde sem te chegar, te recolho e te afago - recolhendo-me, salvando-me.

Ainda que estejas, como estás, como em verdade nunca estiveste
Sou agora rochedo maior que esse que habitas, ou pensas habitar.
Sou agora, mais que heroína estóica e feroz arremessada a ti
- Sou agora a tela sem côr onde pintas o meu Ser, silêncio parado.

Sou agora a estrela estática do firmamento dançante
A tempestade que infante algum ousa enfrentar.
Sou o eco de tudo o jamais escrito - palavras, ritos, sinfonias, asas.
Sou a aterragem que nunca houve porque voo algum foi Real.

Ainda que te tenha aqui visto realmente, cheirado, sentido realmente.
Ainda que estejas, como estás, como em verdade nunca estiveste.

Queda-te e deixa - não venhas, já.



Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)













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