Como se escreve o
que se não pensa, o que se nos estravasa a lucidez?
Como compor em
palavras cognoscências cósmicas?
Se não sei
escrever mais do que o que penso
E me encontro,
não raras vezes, em coma sináptico
Buscando algo,
algo só.
Talvez me tenha
acabado a vida que possa esboçar.
Talvez não
conheça mais conceitos e observam-me
Os olhos dos que
me não vêem , nem me sentem, nem me cheiram.
E o meu nome não
ecoa em sítio nenhum, nem faz esboçar sorrisos.
Pensar a
infinitude já me não satisfaz, já me não preenche.
Quero agora a
nanoexistência invisível de se misturar em moléculas
Do querer, em
ardor, ser toda palavra, toda linguagem, toda ideia.
O nylon que entre
o dedos me vibra rasgando acordes que
Não sei articular
e quero-os abarcar em mim e quero-lhes
Mudar o nome e a
face para uma outra forma de arte, a dos
Inquietos e
insanos que se auto-instruem do conhecimento
Que se sabe,
enfim, enganou o mundo e os homens do mundo.
Saber ser, saber
o saber, ser o saber. Escrevê-lo na convicção
De que nada mais é
digno de ser pensado, reproduzido, lembrado.
E é quando se
olha por cima do ombro e já nem sombra se tem.
E é quando algum
vago auto-reflexo nos fita impunes e nos cala
De súbito a vã
oração da lei cósmica, que loucos vamos balbuciando
Em cada virar de
esquina, e sabemos que do pensar nasce a palavra.
E que esta em nós renasce.
E que esta em nós mata.
Maria Fernandes,
in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2015)