ele falava de Steinbeck e de Thomas Wolfe e
escrevia como que entre meio destes dois
e eu vivia num hotel em Figueroa Street
perto dos bares
e ele vivia nos subúrbios num quarto
minúsculo
e ambos queríamos ser escritores
e encontravamo-nos na biblioteca pública,
sentávamo-nos nos bancos
de pedra e falávamos sobre isso.
mostrou-me os seus contos e escrevia bem,
escrevia
melhor que eu, havia uma calma e uma
força no seu trabalho que o meu não tinha.
as minhas histórias eram sinuosas,
ásperas, com feridas auto-infligidas.
mostrei-lhe todo o meu trabalho mas ele estava
mais impressionado com os
meus feitos alcoólicos e com a minha
atitude mundana.
depois de alguma conversa vamos à
Clifton’s Cafeteria
para a nossa única refeição do dia
(por menos de um dólar em 1941)
ainda assim
gozávamos de boa saúde.
perdemos empregos, arranjamos empregos,
perdemos empregos.
normalmente não trabalhávamos,
imaginávamos sempre que em breve
estaríamos a receber cheques regulares da
The New Yorker, da The Atlantic Monthly e da
Harper’s.
andávamos com um gangue de jovens que não
ambicionavam
coisa alguma
mas possuíam o charme dos valentes sem lei
e
bebíamos com eles e lutávamos com eles e
divertíamo-nos como os diabos.
depois, sem mais nem menos, juntou-se aos Marines.
“Quero provar algo a mim próprio” foi o
que me
disse.
e provou: logo após a recruta, a guerra
veio e em 3 meses
estava morto.
e prometi a mim próprio que um dia
escreveria um romance e que
o dedicaria a ele.
escrevi até agora 5 romances, todos
dedicados a outros.
sabes, tinhas razão, Robert Baun, quando
uma vez me
disseste, “Bukowski, metade de tudo o que
dizes é
treta.”
tradução: Maria Fernandes
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