segunda-feira, 28 de julho de 2014

Tertúlia Poética, Charles Bukowski



ao meio-dia
num pequeno colégio perto da praia
sóbrio
o suor correndo-me pelos braços
uma gota de suor na mesa
esmago-a com o dedo
dinheiro de sangue   dinheiro de sangue
meu deus, devem achar que gosto disto como os outros
mas é para pão e cerveja e para a renda
dinheiro de sangue
estou tenso   sujo   sinto-me mal
pobre gente   estou a falhar   estou a falhar

uma mulher levanta-se
sai
bate com a porta

um poema nojento
alguém me disse que não os lesse
aqui

tarde demais

meus olhos não conseguem ver algumas linhas
leio-o
alto –
tremendo desesperado
sujo

não conseguem ouvir-me
e digo
desisto, é isso, estou
acabado

e mais tarde no meu quarto
há scotch e cerveja:
o sangue de um cobarde.

este então
será o meu destino:
esgravatando por cêntimos em salas pequenas e escuras
lendo poemas de que há muito me
cansei.
e costumava pensar
que os tipos que conduziam autocarros
ou limpavam retretes
ou matavam homens em becos eram
idiotas.


Tradução: Maria Fernandes


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