quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Reporte

Dos encerrados capítulos contemplativos,
Aqui me sento e rastreio o horizonte:
- Ociosidade, a quanto me obrigas despojar.

Dos corpos outrora nús, suados, famintos,
Aqui me sento e rastreio o horizonte:
- Amor, bem vês que me fui para sempre.

Da Máscara – inda e vinda a seu juízo,
Aqui me sento e rastreio o horizonte:
- Sou a manhã gélida no verde bretão.

Das noites – de todas as noites da nossa ausência,
Aqui me sento e rastreio o horizonte:
- Este não é o vale do nosso contentamento.

Das palavras – de todas as palavras de que não precisamos,
Eis-me prostrada, vencida, olhos no imenso opaco:
- Quis salvar-te ao suicidar-me, quis ser eu e tu e todos, todos.
Não é este o norte do nosso âmago – é um outro de escarpas despido.

Maria Fernandes,
in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)

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