sábado, 8 de junho de 2013

Ensaios de um Pseudónimo

A mulher com que desperto ao lado estranhamente tem os teus olhos, o teu corpo, o mesmo cheiro.
A mulher com que desperto ao lado toca-me com as tuas mãos, beija-me com os teus lábios sem saber que respiras desse lado.
Essa mulher-rochedo ao meu lado é uma sombra fria de ti, vã, vazia, vazada da tua força.
Tu, mulher-cósmica-do-meu-prurido-terreno, afaga-me os cabelos, beija-me a fronte, massaja-me as têmporas, entra em mim.
Que te trago e transporto com a raiva que tem de ser, com o peso do fado luso, com a férrea fé do tudo e do nada, com a força dos braços mortos.
Que te trago e transporto em mim e em todos os pequenos bolsos do pensamento e desaguo no teu estuário, meu delta-cativo.
Ah, sim - desaguo no teu estuário, meu delta-cativo...

Norberto Damásio

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