terça-feira, 13 de março de 2012

Contemplação VII

Depois da febril vigília desta noite, meus olhos
Custam a aceitar esta luz sem beira ou sequer eira alguma
Onde por algum instante terei ousado sonhar em repousar
Os verdes olhos, meus.
A noite é de branco horrendo
No compasso em que esse galo já canta, apressado.
Oh, para o teu refúgio escoarei
Todos os ecos - putrefactos e brilhantes -
Que destes corpo e alma exale!
Ao teu olhar clínico remeterei
As reminiscências do inusitado espírito
E os gritos do desusado corpo
Que ondulante pelas pedras desta paredes
Deambula buscando ar novo.
Por cada colina que neste horizonte contemple,
Uma palavra pensada para ti, para o teu
Exclamativo sorriso, para o teu olhar mais fundo que verdes águas
Onde não me foi permitido banhar
Mas somente refrescar a face.
O Torridge corre no sentido oposto
Ao que julguei. O seu recorte pela imitada paisagem de Turner,
Ora baixio ora altivo é o termómetro da minha saudade.
A corrente que não jorrou, ficou à nascente.
Quedou-se entre palavras, entre frases, entre reticências.
Adormeceu em escarlates corações, em punhos cerrados, em manhãs de Domingo
Em que de ti despertei e onde nada acontece!

Atirar-te-ei desse abismo de onde vim.
Deixar-te-ei só nesse limbo multicolor.
Dar-te-ei rubros frutos de agridoce e sumarento âmago.
Até que não mais escapes pela escarpa de meus dedos.
Até que pela porta da madrugada sejas engolido.
E da vigília dessa noite, não restem mais que
Garridas cores de lenços viajantes!!!!


Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2015)



1 comentário:

  1. A tua poesia é sempre maravilhosa... pena que também mostre tantas das tuas lágrimas.

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