Ar uivante é a música de fundo no profundo silêncio desta
noite
E os ténues lampiões são insuportável Luz no negrume de
açoite.
O que contemplo vem-me de dentro, é um projecto deste Eu.
Contudo, o contemplado nunca fui
eu mas o Eu que se pretende fingir.
O genuíno fingimento na arte de
contemplar – rochas, terra, verde, mar…
Todas essas coisas que me contêm,
nas quais me vejo.
Se do verde sob a densa e húmida
bruma me julguei nascido,
Vindo, concebido, por aí deixei
ar de mim, já enlouquecido.
Concluo que o que contemplo
vem-me de dentro, é um projecto deste Eu.
Contudo, o reflexo deste Universo
é pálida projecção deste querer
Que quanto mais dói, mais força
tem, feito Síndrome de uma qualquer escandinava.
Nesse contemplar sinto realmente
parado o Sr. Tempo, impotente!
A chuva é como o sol – um estado
que nos abarca e nos submerge
Só que com menos luz e mais bela,
fresca. E, sem dúvida que sobeje
Quero que se saiba que a chuva
que contemplo vem-me de dentro, é um projecto deste Eu!
Contudo, esse vive em constante
colapso, inconsciente de sua omnipresença.
Pairando por sobre este furioso
oceano a meus pés e zombando, zombando-se,
Como se eu e Eu não fossem um só
nessa tecitura de fingimento!
As cores gastas e pálidas do
inverno de hoje. Esse vento Norte que me afagou e esbofeteou.
O silêncio gritante – onde estão
as pessoas daqui?! E esse ar que me renovou?
O que contemplo anseio engolir
para não mais ter fim este episódio, para que sempre venha destas entranhas
essa visão de plenitude que é o recorte da tua linha em toda a tua extensão, em
toda a tua franqueza. No que te deixo (se algo te dei) e no que me deixas,
desolado. Moribundo. Morto, já.
Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)
Maria Fernandes, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)
Muito profunda e intensa, esta contemplação, para além de bela.
ResponderEliminarBjs