segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Parker Pen

Escrevias, escorreita,
de Parker em punho.

Os demónios que
te abandonavam pela ponta
da tinta desenhando
a forma
do teu sonho,
a completa lânguidez
da tua sombra-sorriso.

De lágrima em
riste, escrevias
a vã hora do
queixume
morno e brando
de cada copo de vinho
ao entardecer
dessas paredes
brancas onde
fantasmas
de genitais
mortos gritavam
que te lhes juntasses.

Mas eras Joan D'Arc e
fazias rolar cabeças
só à força
de uma Parker Pen,
nem Ana, a Louca
ousáva desafiar-te
sorrias, modelando
sob o flash
do teu monstro interior

e o médico insano
te dizia o quão úteis eram os
milhares de vocábulos
de teus dedos emanados

chegaste, ainda, a achar
talvez fosses leda e sana

e enquanto
te esvaías em gás
soubeste bem
que uma Parker
que te comandava a gana.

Para Anne Sexton


Maria Fernandes
(29.11.2014)





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