segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Decapitação a Fernando Pessoa

Dizias, sapiente, que se à Poesia
Photo: Wikipedia
Se dá, a mais nenhum amor se deve
Que não pode um homem ser Génio em tudo
Que a Arte merece o derradeiro suspiro
No morno consolo das madrugadas sós.


Sabias, por dentro, que não
Tinhas paixão para tudo, e que a
Que restava, a essa força da Palavra a darias.
Querias, ah! Tu querias ser D. Sebastião
Ou um Salazar íntegro e triunfal,


(Um Sá Carneiro que morreu novo,
dirias hoje).


Quando Marialva te cortejou e lhe acedeste
Ao aceno traquina com travo da Ilha,
Foi com a vaidade mesma que escreveste
Por Crowley, The Wickedest Man in the World


E dos gracejos gotejantes do Desassossego,
Suponho, tua paixão primordial, e que os
Pensavas pelas ruas da menina e moça abaixo
Embriaguez de ideias, só para seres – perfeito.
Para seres só e uno e unicamente da Palavra.


- Tua pouca paixão não chegaria a uma mulher
Amavas só a ideia tua de ti mesmo
Duvidando do real amor, por este poder ser só uma ideia
A inconcretizável, por de irreal se tratar.


Com medo de seres pouco em um
Fizeste de ti inúmeros, nascidos de constelações várias
Ostentando pulsos diversos, risos e sonhos dispersos
Iguais, todos, na Máscara de fingimento que
Lhes impunhas – a única que te anunciava
O rosto de todas as manhãs em que despertávas
Incrédulo do novo dia no ofício da tua eternidade.


Tu soubeste               o significado do conceito


                  exímio
antes


           de este


o ser.


Não chegaste a experimentar, contudo,
O sopro novo que em Letras lusas se abateu.
Experimentarias tu, Ò Senhor dos 1000 Eus,
Dividir a tua pouca paixão pelo espaço sideral,
Conexão de sintaxes em formas lineares de sons?


Trago a paixão em torvelinhos pelo ar – atiro-a à alvura de telas
Penso-te os versos nas cantarias da cidade do poente rosa
Sei que receaste ser menor que Eliot, não te culpo por tal.
Usáste da máscara de teus Outros para seres tu, Grande.
Ou isso, ou eras louco. Ou então seremo-lo todos
Operários da palavra que depois de ti usaram
De escassa paixão atirada ao derradeiro suspiro
No morno consolo das madrugadas sós.




Maria Fernandes
29.11.2014

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