Nas
horas mortas em que me vai e vem o teu nome (o teu mesmo nome que tão poucas
vezes me atrevi a pronunciar), vens e não penso mais. Não me movo nem respiro
mais. Vejo-te passar. Olhas-me. Depois não me olhas. Vais embora.
(ter-me-ás mesmo visto? e vais mesmo?)
(ter-me-ás mesmo visto? e vais mesmo?)
Passaram
três dias, três horas e trinta e três minutos em que em vinte e cinco mil
milhões e meio de anos demorei a perceber a tua ausência. Cheirou-me, então, a
mar. A vagas bravias contra os rochedos menores do nosso apartamento. O odor de
brotares umas quantas lágrimas de súplica a que me neguei render. O odor de
conter outras tantas. Logo alí, quis possuir a tua ausência – possuí-la como
mil vezes antes, fazê-la presente, real. Possuir a tua ausência como se a ti
fosse, já que o não é. Queimar a pele sem medo da marca que me deixas em fogo.
Desaguar-te, meu Delta. Banhar-te, meu escopo. Banhar-te e inundar-te de mim.
Quando
descerrei os olhos era noite, o silêncio ensurdecedor e, em verdade, nunca
havia chegado a verdade que te dei.
A
névoa murmurou, então, promessas de solidão à minha volta. Não sei que tenho
feito nem que palavras escrito. Sou um cego louco e espezinhado, deixado ao
acaso numa qualquer curva da escarpa nossa, da que fiz nossa e depois chamei de
nossa. Cego louco e espezinhado sem Norte de ti, sem Sul de ti. É o que sou. Um
qualquer sem nenhures de ti.
Norberto
Damásio
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