Nem eu nem tu abrimos mão dos destinos.
Tu foste em demanda de algo que não ouso
perguntar
Eu atiro com força os braços ao ar, no
desejo de
Fazer sombra antes que o meu tronco
apodreça.
Contudo, fica comigo na tua saudade, no
teu íntimo que sabemos nosso,
Igual, da mesma matéria, do mesmo cheiro,
da mesma palavra.
Queda-te por perto, não afastes as
palavras de seda
Que vertes daí, nessa ausência presente e
onde respiras
Acordares angustiados de lágrimas em Nó. E
quero-te.
E corro o mais possivel de ti. E voo
sempre para ti. E não te quero.
E quero-te. Quero-a a ela, mulher-rochedo
de que não me ouso apartar.
Mulher-loucura da minha infância. Aquela
por quem me perdi. A outra. Tu.
Fica, fica-me cá por dentro desde aí –
onde estás.
Tu que me lês, tu que me escreves. Tu que
me choras, tu que me cantas.
Tu que me sonhas e me esperas e me ouves e
me gritas e me dás raiva, – tu!
Tu adormeces em mim a cada noite!
Tu. Tu me aqueces por dentro e sinto um
galáctico prurido aqui!
Eu. Sou um homem novo e velejo em mares também
novos, anseio portos de calmaria.
Porque me fico aqui a olhar-te? Se digo
que te amo – e não retiro o que digo -
Porque me fico aqui? Porque não vou para
onde estás?
Porque não vens de onde estás? Que fazes
tu, tão longe do meu desejo?
Quando é aqui que estendo os ramos que te
refrescam no sol do Norte
E preciso-te. E fujo-te. E corro para o
verde-negro e para ela-rochedo.
Nos seus olhos vazios tanta, mas tanta vez
eu vejo o teu rosto.
E vêm os tais dias em que me queres escapar,
feito areia nos dedos.
Perguntas porque sim, porque não, porque
nunca mais, quanto pesa, quando chega.
Eu não quero ter de explicar o que sabes,
sendo condição que o saibamos
Para que existamos assim, em contínuo
estado surreal-perfeito.
Só preciso que existas no meu plano
metafísico, onde busco paz,
Não me atreveria a fazer-te minha e real,
mas fica! – ainda.
Fica com essa voz desde aí. Não me olvides
nas noites de lágrimas.
Eu, que morro e me perco e me encontro na
curva da tua anca
Quando te me dás assim, sem condição. E
clamas com os olhos
Pelo meu nome numa língua que só eu sei, e
todo o eu
Se embute em ti, e és o meu estuário, a
minha foz, o meu delta-cativo.
A ti me mostro e me coso e te trago e te
deixo. E vou, sem palavra.
Norberto Damásio
A dualidade do ser humano aqui tão patente.
ResponderEliminar