quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ERÓTICA


O ar e o tempo desaparecem à vista um do outro. Num ápice os poucos metros, os poucos centímetros desaparecem entre os lábios sôfregos. Sustêm-se respirações, só muito depois abrandam os pulsos.
As mãos indecentes e selvagens não se contêm à vista dos corpos, percorrem-no lânguida e longamente - o peito. o pescoço, os seios, o ventre, as nádegas, o sexo quente. O cheiro da sensualidade, intolerável aos sentidos abarca a aura indelével e etérea ao redor dos corpos gritando urgentemente por calor, por posse, por entrega.
A cada peça de roupa atirada ao chão uma emoção desnuda, uma carne descoberta, pronta para ser arrasada no delírio da entrega. Arfam gargantas, arqueiam silhuetas, fundem-se poros. Os dedos procuram urgentes o cerne da essência, clamores ardorosos respondem.
Deixar que a boca velada e húmida lhe percorra a pele amarrotando-a em beijos exigentes e embalar-se na melodia de gemidos e suspiros incontidos.
Ofuscar pelo rasto do brilho da sua saliva nos seios desnudos, abandonando-se ao calor do sexo duro e vero.
O ritmo incompatível e inenarrável é o único sentir da sala, também ela desnuda. Há muito que a fogueira não emite luz, nem calor. Só os corpos se mascaram de real verdade de sentir, abandonados à inverosímel ideia de verdade. Ainda que os sexos se beijem e se fundam, e se amem e se  fundam e morram no renascimento um do outro...  e se fundam. Nunca todo o toque, todo o jeito, todo o olhar será suficiente.
A uma certa altura deixa de haver espaço. Ou som. Ou sequer noção de existência. Ao lado do seu  Eu vê o teu Eu.
Profana reunião de sílabas dissabores, multicolores de sons.
Vero amore.


Maria Fernandes

1 comentário: