segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Palavras Mortas

ficou escrito

que nada disto
o que hoje
exala do ser
nos poderia salvar

- só tu e eu em limbos
sarapintados, êxodos escritos

e talvez que numa qualquer






 





plataforma particular

se possa deixar enrolar a
parda cinza das noites
- todas -
em que se cruzam
iradas ondas em desaforo
contínuo uníssono

(dá-me algumas
das tuas rochas roladas
e teço-te um xaile-volúpia)

eu, que





 



resisto se me deres uma janela,

declaro agora a evidência
da impossibilidade
de apoteose
- havendo todos os testes falhado,
restará
a ruína
do emaranhado céu
em que jazem
os cadáveres todos
de certas
palavras
ditas




 blue velvet

ainda que alma
alguma tal creia,
as palavras mortas,
por certo, lá estarão
no exímio instante
em que embutida
no imenso tudo
emerjo à tona
da boca do teu cais



sem nome

e desde o teu cimo
vejo as sinfonias-rodopio
de toda e cada uma delas
a meus pés
- a nossos pés.
escrevo-lhe o nome:
um breve e reles





 untitled

bastará para denominar
o limbo informe
da existência incólume
que hoje somos

(dúzia e meia de rabiscos
no chão desolado
da nossa ausência)




 (09.05.2016)




Maria Fernandes
Fotos © Fedra Espiga Pinto
publicado em "Perspectivas", in Diários do Umbigo, Umbigoº Magazine


2 comentários:

  1. A sua poesia surpreende-me
    É a primeira vez que a leio
    Parabéns por essa força poética posta nas palavras

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