segunda-feira, 9 de setembro de 2013

CONSTATAÇÃO VI



Como de todas as vezes em que ficas em silêncio
e todos os cordéis cósmicos me berram
os trâmites do teu respirar inconsciente.
Colei os olhos à tua cara adormecida,
decorei-te os trejeitos dos lábios púrpura dessa manhã.

Urge despertar-te, render-me ao tempo
e à evidência da decadência e impossibilidade nossas.
Antes disso, amo-te uma vez mais
e o estarrecer do teu imo-limbo
no instante em que desaguas em mim.
Depois vieram os dias seguintes. E nós neles - ermos.


Maria Fernandes,
in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Lágrima Multiforme



Difere em densidade, o Sabor desta lágrima.
Difere no sabor à medida que se me corre pelos lábios semi-abertos
Difere na forma, no percurso pelo Rosto.
O Sal – este Sal não é o mesmo.

Não posso crer que seja a mesma.

Se de todos os paramentos se veste, em êxtase.
Se todos os Rostos e todas as Máscaras
Toma em seu poder – esta disforme gota, pérola do meu atordoamento.
Como chamar a que já foi, se
Nunca nem nome teve, a esdrúxula.
Se me vazou, se me secou, se me matou
- Como agora vê-la, nomeá-la?
Se mil nomes tem a seu bel-prazer?
Se de ti se veste em todas as manhãs em torpor?

Cuspo o chão – não é digno de me suster.
Prefiro pairar.

E pairando vou.



Maria Fernande, in Contemplações, Constatações e 30 Ventos (2014)