sábado, 13 de abril de 2013

Que Finja a Poesia


É a velha canção que não se pode deixar de ouvir
Os acordes mesmos de sempre debaixo destes dedos
Em mansidão, em compassos que não cabem em tempos
Escrever e não escrever, respirar sem expirar
não sei escrever, não consigo escrever,
nunca e nada mais respiro que escrever.
Alguém  que reclame das palavras ocas!
Que apedreje  a erma mente, lhe ateie fogo
A faça confessar, gritar contrições  confusas,
Lhe dê vinho, - alguém que lhe dê vinho!
- Esse elixir casto e cáustico salteador de Línguas!
Que em tons rubi dá à luz os pesadelos da noite passada.
Cobre-os do manto silencioso dos lábios cerrados.
Atira-os ondulando sobre o manto barrento ora,
Outrora de alva brancura, estatelam-se ao comprido
Na falsa e vã ideia do poema que não vive senão em loucura.

Quererá a Poesia a minha loucura?
Quererá tomar-me toda em Si?
Vazar-me de senso, lixar-me o que me resta da vida?
Abraçar-me apenas na mísera condição a que me quer condenar?
Vamos, que dedilhe já essa pauta de himalaias!
Que me faça dançar em rodopio como o não há anos!
Sempre quero ver! Sempre quero sentir que compasso
Me vai impôr, como se me punisse por sequer almejar
Uma qualquer felicidade, um sucesso ainda que rasca!
A raquítica canção poética não vinga senão em dor,
Não impera senão em desepero, agoniza em sorrisos ledos.
Finge dor enquanto pode se a não há.
Depois cansa-se e abandona-me no vento obtuso
Que de limbos sopra invisíveis tecituras.
Em febre, confundo-as com palavras.
Manejo-as como aos poi entre os dedos, faço-as rodar
Acima, abaixo, ao longo do meu corpo.
Ao longo de suas formas ondulo os cabelos,
Deixo que me batam, que julguem que dominam.
Às vezes ganham. Então fingem por mim e sorrio.

Backwards three-beat-wave
O comprimento da onda do pensar
Ordena ao movimento a forma, educa-te o corpo.
A curva da onda da razão sonhada
Será o sentido das palavras que recolho no espaço.

Processo-as. Mastigo-as. Com elas me cubro.
Delas me dispo. Delas me faço. Em tudo me busco.
Jamais me satisfaço, sede de expressão sem fim.
Se quero o Tudo dizer  e digo o Nada!
Almejo ao Tudo e escrevo o Nada, em nadas me deparo
E páro tudo, então. E que finja a poesia.
Que finja por mim.


Maria Fernandes






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