É a velha canção que não se pode deixar de
ouvir
Os acordes mesmos de sempre debaixo destes
dedos
Em mansidão, em compassos que não cabem em
tempos
Escrever e não escrever, respirar sem
expirar
não sei escrever, não consigo escrever,
nunca e nada mais respiro que escrever.
não sei escrever, não consigo escrever,
nunca e nada mais respiro que escrever.
Alguém que reclame das palavras ocas!
Que apedreje
a erma mente, lhe ateie fogo
A faça confessar, gritar contrições confusas,
Lhe dê vinho, - alguém que lhe dê vinho!
- Esse elixir casto e cáustico salteador de
Línguas!
Que em tons rubi dá à luz os pesadelos da
noite passada.
Cobre-os do manto silencioso dos lábios
cerrados.
Atira-os ondulando sobre o manto barrento ora,
Outrora de alva brancura, estatelam-se ao
comprido
Na falsa e vã ideia do poema que não vive
senão em loucura.
Quererá a Poesia a minha loucura?
Quererá tomar-me toda em Si?
Vazar-me de senso, lixar-me o que me resta
da vida?
Abraçar-me apenas na mísera condição a que
me quer condenar?
Vamos, que dedilhe já essa pauta de
himalaias!
Que me faça dançar em rodopio como o não
há anos!
Sempre quero ver! Sempre quero sentir que
compasso
Me vai impôr, como se me punisse por
sequer almejar
Uma qualquer felicidade, um sucesso ainda
que rasca!
A raquítica canção poética não vinga senão
em dor,
Não impera senão em desepero, agoniza em
sorrisos ledos.
Finge dor enquanto pode se a não há.
Depois cansa-se e abandona-me no vento
obtuso
Que de limbos sopra invisíveis
tecituras.
Em febre, confundo-as com palavras.
Manejo-as como aos poi entre os dedos,
faço-as rodar
Acima, abaixo, ao longo do meu corpo.
Ao longo de suas formas ondulo os cabelos,
Deixo que me batam, que julguem que
dominam.
Às vezes ganham. Então fingem por mim e
sorrio.
Backwards
three-beat-wave
O comprimento da onda do pensar
Ordena ao movimento a forma, educa-te o
corpo.
A curva da onda da razão sonhada
Será o sentido das palavras que recolho no
espaço.
Processo-as. Mastigo-as. Com elas me
cubro.
Delas me dispo. Delas me faço. Em tudo me
busco.
Jamais me satisfaço, sede de expressão sem
fim.
Se quero o Tudo dizer e digo o Nada!
Almejo ao Tudo e escrevo o Nada, em nadas me deparo
E páro tudo, então. E que finja a poesia.
Que finja por mim.
Maria Fernandes
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