Degusto o sol que me amadurece.
Degusto-o como se jamais antes inalasse
Seu calor ermo e atiro as vísceras
Resgatadas do gelo da Máscara –
- a antes Inerte, quer me vestiu, que
Me assolou a alma em ausência. –
Sou agora leve de Imo. E de Fado.
Degusto o sol da Rocha
Como se jamais antes rocha fosse.
Sorvo-o com os lábios colados ao
Vento desse Cabo – aos minutos primeiros
Em que surgiu o Rochedo, as mãos
latejantes
Da febre da vigília vã do Limbo
Onde mergulhei nua, absorta, heróica. –
- Sou agora a fada do meu sonho de embalo:
-
agito varinhas de condão aos anjos;
-
sorrio-lhes – e então, o sol.
- Um outro que não o que em Bretão solo
Me lambeu a pele, bafejou vago calor,
Segredou curvas de ráfia e me deixou fria,
Um outro que não esse, mas quente, com cor
Com medida, com forma – e belo.
Degusto-o e a seu cheiro terrestre – de rocha.
De Rocha de sal lambida
De Rocha que não sabe que é
Porque de si não sai, nem se mantém
Nem se olha, nem se pode olhar
Mas somente suster-se nas ânsias
Das Ilhas todas que se não vêem,
Que se não sentem porque se não podem ver.
Porque de si não lhes é possível sair –
- os anjos, em verdade, não ofertam sol
A todos os sorrisos, mas só aos
Que o provam e, em amor,
Se lhe rendem.
Maria Fernandes
14.06.2014